O segundo álbum dos Xutos é, talvez, o melhor álbum da carreira da banda. Se não for o melhor, será certamente o mais emblemático. Para quem não sabe o motivo, basta transcrever o texto que se encontra no livro do disco original:
"Este disco tem o nome de "Cerco" porque todas as grandes editoras recusaram o trabalho nele contido. Foi, por isso, gravado com raiva e determinação em pouco mais de uma semana. É o primeiro disco gravado com o João e o Gui. Dedicado a todos os fãs que esgotaram os concertos do Rock Rendez Vous."
Pelos motivos acima mencionados, o Cerco assume uma importância fulcral naquilo que viria ser o futuro dos Xutos & Pontapés. Foi uma espécie de "vai ou racha" na carreira da banda, numa altura em que os Xutos já eram uma banda de enorme culto para muitos melómanos, principalmente, aqueles que frequentavam o mítico Rock Rendez Vous. Foi digamos que o preparativo para o que viria ser o reconhecimento nacional, atingido com Circo de Feras, 88 e Triplo Ao Vivo.
As músicas são, todas elas, grandes canções. Começando por "Barcos Gregos", acabando em "Sexo", está lá tudo o que viria ser a imagem de marca dos Xutos. Grandes canções, letras que o comum dos mortais se revê e grande atitude. Musicalmente falando, a entrada do saxofone de Gui e dos riffs da guitarra de João Cabeleira, são as peças que faltavam para compor aquele que viria ser o som com o "carimbo" Xutos. A própria maneira como o disco foi gravado (num curtíssimo espaço de tempo) e em condições que não eram as ideais, dá um toque muito particular ao som do disco original.
Agora com edição de O Cerco Continua, penso ser intenção da banda homenagear um álbum que foi fundamental no percurso dos Xutos e do próprio rock nacional (rio-me, quando se fazem listas de melhores álbuns do rock nacional e Cerco não é mencionado. Incoerências de senhoras e senhores "pseudo-indies", que não suportam bandas que conseguem atingir um sucesso e uma unanimidade enormes). Os Xutos fizeram uma revisão do disco, tocando as músicas da mesma forma que as mesmas são hoje apresentadas ao vivo, sendo que a gravação tem, obviamente, uma qualidade muito superior ao disco original. E isto não faz com que esta nova revisão, seja melhor que a gravação original. Faz, simplesmente, que seja diferente. Os Xutos são hoje uma banda consagrada e em que os seus elementos são, naturalmente, muito melhores musicos do que o eram em 1985. Por outro lado, na versão original, o que faltava em técnica, sobrava em atitude e é engraçado notar esta diferença ouvindo os dois discos.
Às músicas do original, acrescentaram ainda "Vossa Excelência", (uma versão dos Xutos para o original dos Titãs), "Tonto" (com Kalú na voz e com algumas diferenças para a versão original de Direito Ao Deserto), "Perfeito Vazio" e "Quem É Quem".
Foi bom voltar a ouvir este "novo" Cerco, agora revisto pelos Xutos actuais, necessariamente diferentes dos Xutos de Novembro de 85. Foi também bom, ter vontade de ouvir, de novo, o Cerco original, com um som menos bom, mas com uma atitude e, sobretudo com as canções, que foram a base do sucesso da maior banda de sempre do rock nacional. O Cerco é eterno.
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