terça-feira, 13 de março de 2012

A 12 de Março eu queria verdade

Há um ano atrás, eu fui um dos trezentos mil que desceram a Avenida da Liberdade. Os motivos (pelo menos, os meus e para mim) eram nobres. Mais do que discutir esta ou aquela medida, mais do que pôr em causa o governo que estava em funções, o que me levou ali era chamar à atenção, de uma forma veemente, pacífica e em massa, para a necessidade imperiosa da moralização da nossa classe política. Por uma classe política com sentido de Estado, com ética e fora dos lobbies partidários. Por novas formas de fazer política, em que o país está à frente das disputas partidárias. Por uma nova forma de fazer política, em que ganhar eleições não seja o objectivo final e único dos aparelhos partidários (aparelhos esses, carregados de "jotinhas" à procura de "tacho", sem o mínimo apelo pelo bem público). Por uma nova forma de fazer política, assente em ideias, que realmente tenham como intenção mudar o país para melhor. Pelo fim do "carneirismo" que existe nos tais aparelhos partidários, em que das duas uma: ou se segue a opinião vigente ou então os divergentes, são "excomungados" ou colocados na "prateleira". Foi por isto, essencialmente, que eu lá estive. Foi isto que eu interpretei que seria o motivo daquela manifestação. E, por isto, eu voltaria a marcar presença.

Recordo-me que fiquei orgulhoso e feliz por tamanha participação. Uma manifestação com trezentas mil pessoas em Portugal, não é uma manifestação de partidos de esquerda ou de direita. Tal dimensão só foi atingida, porque era, de facto, uma manifestação apartidária e com propósitos nobres que, acima de tudo, passavam por demonstrar que estávamos fartos dos aparelhos, dos "tachos" e do "joguinho" político do costume, enquanto o país já estava enterrado na lama.

Passado um ano e com pena minha, o movimento que deu azo a esta manifestação, tornou-se um braço da esquerda demagógica deste país. Não perceberam que trezentas mil pessoas numa manifestação, não congregavam somente apoiantes do PCP ou do Bloco de Esquerda, mas sim votantes de todos os partidos, votantes em branco, não votantes, anarquistas, monárquicos, etc. Não perceberam que, independentemente dos sacríficios que cada um terá que fazer e passar, o país tem que mudar. O mundo e o país, não são os mesmos de Abril de 1974. Acima de tudo, os trezentos mil (ou parte deles...) querem que os políticos digam a verdade. Mesmo que essa verdade não seja agradável de ouvir, em vez de dizerem mentiras "agradáveis" aos ouvidos, mas que no futuro terão custos irreparáveis para o país.

Foi pena que o embalo daquela manifestação não tenha sido aproveitado de uma forma positiva e não demagógica. Continua a haver necessidade (a mesma que havia o ano passado) de demonstrar a quem governa e a quem faz oposição, que não há lugar para mentiras, demagogias e tácticas partidárias, baseadas na "filha da putisse" do poder pelo poder.

Eu não estive lá para que me dissessem que o caminho era fácil. Estive lá para que me dissessem a verdade. E a verdade, é que o paradigma mudou, o mundo mudou e o país também vai ter que mudar, independentemente da forma de o fazer e do caminho para lá chegar. Não nascem as mesmas pessoas que nasciam em 1974. Existem mais idosos. A nossa Segurança Social está falida. O país tem que preparar o futuro. Quem não quer ver isto, está a ser igual a quem, supostamente, combate. Está, simplesmente, a ser demagógico, mentiroso e irresponsável. Se queremos ser governados com responsabilidade, temos nós mesmos que ser responsáveis. A propósito, já viram o resultado do referendo na Suiça, em que questionava o alargamento das férias de 4 para 6 semanas? Pois é, os suiços recusaram o alargamento. Não será um bom exemplo de responsabilidade?

Tenho muito respeito e orgulho pela revolução de Abril. A maior homenagem que podemos fazer a quem a fez e a quem, posteriormente, a consolidou e a tornou, efectivamente, uma revolução democrática, é continuarmos a ser participativos, exigentes e a pedir, única e exclusivamente, a verdade. Mesmo que a verdade tenha custos e seja dura. Sem verdade, não há qualquer possibilidade de existir uma verdadeira democracia. É nisto que eu acredito e foi por isto que, orgulhosamente, lá estive. Na avenida. A 12 de Março de 2011.

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