Este texto poderia muito bem ser a continuação do anterior. Continuo a ler e a ouvir determinados comentários (alguns deles, bastante aplaudidos ou com muito "likes"...), que continuam a fazer-me uma enorme confusão e que, inclusivê, me fazem pôr em causa a credibilidade de quem os faz.
E essa credibilidade, é somente posta em causa pela incoerência que os mesmos demonstram, depois da mentira de Lance Armstrong ter sido admitida pelo mesmo. Eram estas mesmas pessoas que eu ouvia ou lia há uns tempos atrás, em emissões em directo das diversas competições de ciclismo ou nas redes sociais, antes de Lance ter confessado o uso doping, que tudo isto não passava de uma "caça ás bruxas", que o homem nunca tinha tido um controlo positivo e que tudo não passava de inveja ou de uma cilada por parte de alguém para prejudicar o ciclismo e o próprio Lance. Para estes, Lance estava limpo e as vitórias no Tour, deviam-se ao enorme talento e às capacidades que adquiriu depois de ter vencido o cancro.
Posto isto e após a confissão de Lance, a conversa mudou. De repente, o ciclismo que era limpo, passou a ser sujo. Ou seja, antes da confissão de Lance, o ciclismo poderia ter casos de doping pontuais, mas na sua essência era um desporto onde os ciclistas não faziam batota. Depois da confissão e numa tentativa de defesa do americano, as mesmas pessoas que diziam que o ciclismo era limpo, dizem que Lance era só mais um e que todos se dopavam (ainda hoje, depois de Rasmussen, ter, também ele, confessado o uso de doping, vejo reputados comentadores que anteriormente diziam que o ciclismo era limpo de uma forma geral, a dizer algo do género "venham dizer que o mal continua a chamar-se Lance Armstrong"). Entao mas anteriormente não havia uma "caça às bruxas"? Não era o ciclismo um desporto, na sua generalidade, limpo? Lance Armstrong, o tal que nunca tinha tido um controlo positivo, não estava a ser alvo de uma campanha para o denegrir? Em que ficamos? De repente, a justificação passou a ser "eram todos dopados e o Lance não era excepção". Mas não eram as pessoas que dizem agora isto, que diziam no passado, que o ciclismo tinha casos pontuais de doping, como todos os desportos os têm, mas que a maioria dos corredores não utilizava esses meios? Onde está a coerência? Afinal são todos dopados, depois da confissão de Lance?
Se querem o bem do ciclismo e se querem que a modalidade continue a ter credibilidade, assumam que havia e há uma mentalidade, onde "vale tudo" para conseguir resultados. Assumam que é um problema que existe no ciclismo e que só o desmascarando e colocando uma nova mentalidade nos ciclistas (nomeadamente nos mais jovens) que as coisas podem mudar. Assumam que humanamente, há coisas impossíveis de serem feitas e talvez os organismos que lideram a modalidade, começem a "humanizar" os percursos das diversas etapas e competições. Como espectador, só consigo valorizar quem vence, se souber que foi com recurso ao seu talento, ao seu treino, à sua estratégia, à sua alimentação e à sua hidratação (e tomar suplementos energéticos, não é doping, ao contrário de alguns ridículos comentários que já vi por aí).
Por último, deixo um desafio aos antigos ciclistas profissionais. Aqueles que, neste momento, têm pouco a perder. Eles que conhecem o "pelotão" e os seus hábitos como poucos, contem-nos a verdade. Digam o que viram, o que viveram e o que fizeram ou viram fazer. Digam-nos tudo. Se gostam de ciclismo, se querem que o ciclismo continue a ser uma das modalidades mais queridas em todo o mundo, deitem a verdade toda para fora e façam com que este pesadelo acabe. Pelo contrário, caso prefiram defender o indefensável, só estão a atirar o ciclismo para um lodo ainda mais profundo, do que aquele onde a modalidade já se encontra.
O ciclismo sem espectadores e fãs, não é nada. E esses, querem heróis de verdade e com verdade. Já chega de mentira e batota.
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