sexta-feira, 17 de junho de 2011

João Vieira Pinto - O Maior Dos Meus Ídolos



Um dia teria que ser. Já o tinha prometido a mim mesmo e nem que fosse este o último texto que escrevesse na vida, teria que o fazer. Portanto, é esta a minha humilde prosa de homenagem, ao maior dos meus ídolos da bola e do clube ao qual jurei amor eterno e incondicional.

Antes dele, os meus ídolos na bola não tinham sido muitos. Nem poderia ser de outra forma, devido à tenra idade que tinha. Gostava de Futre (já estava no Atlético e era o melhor jogador português à época) e no meu clube começei por gostar do agora "barrigudo" Magnusson (em 89-90, o minha época zero nas coisas da bola, Bola de Prata), Rui Águas (na época seguinte, também ele Bola de Prata. O ano em que regressa ao Benfica, depois de uma estranha estadia a norte...) e Vítor Paneira (jogador de grande classe, que também saiu do Benfica de uma forma ingrata e estranha). Começei a despertar para João Pinto, no Mundial de 91 em Lisboa (o de Riade, não me recordo de ver). Logo no primeiro jogo, é ele que marca o golo da vitória num jogo nas Antas e logo aí, aquele "dez meio reis de gente", chamou-me a atenção. Durante esse Mundial, se bem me lembro, não voltou a marcar. Mas aquele finta curta, aquelas movimentações na frente de ataque, aquele jeito de atacar a bola sem medo e, sobretudo, aquela classe pura de pensar e executar mais rápido que todos os outros, ficaram na minha cabeça. Óbvio que, com 8 anos, não tinha ainda a "cultura" futebolistica suficiente para tirar todas estas conclusões. Mas hoje, consigo perceber a essência da minha "paixão" pelo futebol daquele rapaz.

Na época seguinte ao Mundial de Lisboa, João Pinto regressou ao Boavista , depois da experiência falhada no Atlético de Madrid. Faz uma época fantástica. Com um trio atacante muito bom, com João Pinto, Marlon e Ricky (Bola de Prata nessa época), o Boavista acaba em 4º lugar no campeonato e vence a Taça de Portugal numa final contra o Porto. João Pinto faz 7 golos no campeonato e logo nessa época começou algo que, mais tarde, se veio a tornar uma tradição. Logo nessa época, 3 dos 7 golos de João Pinto, foram marcados ao Sporting...

De qualquer modo, apesar da admiração que tinha por João Pinto, era necessário algo mais para que ele se tornasse num ídolo verdadeiro. E o que faltava, aconteceu em 92-93. João Pinto assina pelo Benfica e começou aí uma ligação especial, que durou 8 anos. Logo nessa época, apesar de uma lesão grave (pneumotórax), assume-se como titular e como um jogador preponderante (obviamente). A equipa era fantástica (Mozer, Paulo Sousa, Vítor Paneira, Rui Costa, Isaias, João Pinto, Futre, entre outros), mesmo não tendo sido campeã, ganhou a Taça de Portugal, num dos maiores shows de bola que vi na vida, vencendo o Boavista por 5-2 (1 golo de João Pinto).

Na época seguinte, depois de um início de época conturbado, que quase levava João Pinto para o outro lado da 2ª Circular, João Pinto acaba por ficar no Benfica. Marca 14 golos no campeonato e marca 3 em Alvalade, no jogo mais brilhante da sua vida ( a primeira nota 10 d'A Bola) e, mais não fosse por isso, já ficaria na história do Benfica. Mas para mim, reduzir a carreira de João Pinto no Benfica, a esta época (93-94) e a um jogo (o dos 3-6, em Alvalade), é um "sacrilégio" e uma injustiça do tamanho do antigo Estádio da Luz.

Depois da razia provocada aquando da chegada de Artur Jorge, o Benfica entrou na decadência desportiva que se sabe. E é aqui que João Pinto, na minha opinião, fica realmente na história do clube. Depois da saída de outros "históricos" do Benfica, foi vê-lo durante anos a fio a "carregar a equipa às costas". Aliás, tenho para mim que, desde que vejo bola, nunca houve uma equipa tão dependente de um só jogador (ou dois, se contarmos com o grande Preud'homme), como nessa altura o Benfica dependia de João Pinto. Desde que acompanho o Benfica, nunca vi um jogador ter uma relação tão especial com os adeptos, como a que João Pinto teve (peço desculpa, mas nem os muito respeitáveis Simão e Nuno Gomes, tiveram tal relação com a massa associativa). João Pinto era a esperança, era a classe, era a garra e, sobretudo, era a representação última da tal mistica perdida, para aqueles adeptos que se sentavam no cimento da antiga Luz.

Após o campeonato de 93-94, não mais João Pinto voltou a ser campeão no Benfica. Em 95-96, venceu a Taça de Portugal. Na final com o Sporting (a tal do very-light), assinou 2 golos e uma fantástica exibição. Esta também é a sua época mais produtiva de sempre, marcando 18 golos no campeonato.

Ainda hoje quando recordo este dia, fico triste. Aquele dia que eu não sei precisar qual foi ao certo, após o fim do campeonato de 99-00 e antes do início do Euro2000. O dia em que João Pinto foi dispensado do Benfica. Quando vi a notícia, pensei que só poderia um engano ou uma brincadeira (de mau gosto, diga-se). Quando vi que a coisa era a sério, não quis acreditar que era possível. Para mim tudo aquilo tinha tanto de absurdo, como de injusto. Aliás, se esquecermos a parte emocional da coisa, dispensar o jogador mais valioso do plantel daquela forma, foi um crime que lesou o clube financeira e desportivamente. Foi um dia muito triste para mim. Senti vergonha de ser do Benfica naquele dia (confesso...). Talvez seja parvo o que vou dizer, mas poucas derrotas do meu clube me custaram tanto, do que ver João Pinto sair do Benfica daquela forma.

Obviamente, que o tempo deu-me razão. Aliás, dias depois a razão que eu sabia que tinha, surgiu. No Euro2000, João Pinto foi elemento preponderante, naquela que é, para mim, a melhor selecção nacional de sempre. O golo à Inglaterra, é por muitos considerado o melhor do Europeu (para mim também foi). No que diz respeito ao Benfica, os beneficios da saída de João Pinto não foram nenhuns. Nos dois anos que se seguiram à sua saída, o Benfica nem sequer à Europa foi e só em 2003-2004, voltou a ganhar um título (Taça de Portugal) e só em 2004-2005 voltou a ser Campeão Nacional. No Sporting, João Pinto, naturalmente, assumiu-se como jogador importante que sempre foi por onde passou. Ganhou todos os títulos que poderia ganhar a nível nacional e foi o "pai" do melhor ponta-de-lança que por cá passou, Jardel.

Quando João Pinto, ingressou no Sporting, custou-me muito. O meu jogador preferido a jogar de "verde e branco", era um pesadelo enorme. Uma coisa sem sentido. Não deixei de ser do Benfica, mas o João Pinto continuou a ser o meu jogador preferido. Nunca o assobiei e achava uma injustiça enorme as assobiadelas e os insultos de que era alvo, sempre que regressava à Luz. Não estou a dizer que o aplaudissem, mas que o tratassem como os restantes adversários. Era o minímo sinal de respeito que os adeptos de Benfica podiam ter com quem, durante anos, foi o maior símbolo do clube e que só de lá saiu porque foi empurrado para tal. Os jogos da selecção eram um alívio para mim. Aí podia conjugar a minha admiração pelo jogador, com o facto de ele estar a jogar no "meu" lado da barricada.

O que vou escrever, talvez seja polémico e discutível. Mas até sei que há por aí uns quantos que concordam comigo. Na minha opinião, João Pinto foi o melhor jogador português da sua geração. E não pensem que estou confuso e estou a esquecer-me de Figo e Rui Costa. Não estou. Estes tiveram carreiras internacionais maiores, sem dúvida. Melhoraram muito fisicamente e atingiram outros patamares de notoriedade lá fora. Mas em "estado bruto", João Pinto era melhor. João Pinto era mais genial. Lembro-me que a dada altura, aquela posição atrás do ponta-de-lança, normalmente a posição em que João Pinto jogava, passou a ser apelidada, simplesmente, da "posição do João Pinto".

Foi, sem dúvida, o jogador que mais idolatrei na minha vida e o jogador mais marcante e empolgante que vi jogar no Benfica. E, para mim, nunca será o "Grande Artista", mas sim o "Menino de Ouro". Nunca será o "25" mas sim o "8". Maradona disse um dia acerca de João Pinto que "ele tem classe até à andar". Concordo.

Obrigado João.



http://www.youtube.com/watch?v=KgD86bzMZWc

http://www.youtube.com/watch?v=Ww_DOQN2Sg8&feature=grec_index

http://www.youtube.com/watch?v=yGrn57kcrU8&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=LIKFm1hhK2E&NR=1

http://www.youtube.com/watch?v=xsPxxsdW3Bc&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=LzWEVp-D48c

http://www.youtube.com/watch?v=Syzcc3IY4PQ&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=QZXXcIi0cpU

domingo, 5 de junho de 2011

Uma Coisa Boa E A Tristeza Do Costume

Alguns desabafos sobre a noite de hoje.

Começo pelo que considero ser a única real boa notícia da noite. O país livrou-se de um primeiro-ministro que mentiu vezes sem conta e que encarnou o lado demagógico da política, de uma forma quase inigualável. E isto só pode ser uma boa notícia. Aliás, o facto de o senhor se demitir e não vir a ser líder da oposição, é também um facto importante e positivo. Apesar de ainda não estar "morto" políticamente (e o futuro vai dar-me razão, infelizmente...), quanto mais tempo políticos como este estiverem longe dos centros de decisão, mais respirável estará o país.

Tenho para mim (e não sou só eu), que o PSD ganha estas eleições de uma forma expressiva (mesmo sem a maioria absoluta), mais pela vontade do povo em afastar Sócrates do poder, do que por mérito próprio. Num futuro próximo, não acho que esta vitória do PSD, mesmo que expressiva, faça dos "laranjas" um partido de inequívoca confiança junto do eleitorado (mesmo até junto daquele, que é o seu eleitorado tradicional) e, daqui para frente, é provável que assistamos a hipócrita "colagem" do PS aos partidos à sua esquerda, como se este mesmo partido não tivesse governado o país nos últimos 6 anos e assinado o acordo com a "troika".

Em relação ao sucessor, Passos Coelho, ainda é para mim uma incógnita. Parece-me mais sério e menos permeável a demagogias do que aquele a quem vai suceder, mas aquele aparelho partidário que o rodeia, nomeadamente algumas figuras que o acompanham, fazem-me desconfiar do que aí vem. A ver vamos...

De resto, destaco nesta noite eleitoral mais uma triste figura dos aparelhos partidários dos dois maiores partidos deste país, nomeadamente, os seus "jotinhas"que, mais uma vez, fizeram questão de demonstrar a irresponsabilidade, a falta de sentido de Estado e de sentido democrático que aquelas cabeças possuem. Uns (os do PSD), agarradinhos aos pulos, como se o seu "clube" tivesse ganho a Liga dos Campeões. Outros (os do PS), numa vergonhosa atitude anti-democrática, a apuparem os jornalistas que faziam perguntas ao seu ainda líder.

Esta questão dos aparelhos partidários, dos "jotinhas" e afins, talvez seja uma das questões para, uma vez mais, a abstenção ter sido a grande vencedora da noite. A esta gente, talvez isto não preocupe. Mas a mim e a uns quantos que não fazem da política um jogo de futebol, só pode preocupar. Já o escrevi aqui antes e volto a escrever, que esta forma de fazer política, baseada em "casos" diários, em "gaffes" e em discursos carregados de retórica mas sem nenhuma ideia para o país, só afastam as pessoas da política. E repito também, que os jornalistas que "alimentam" isto, têm também eles culpa no cartório, pois não centram (nem tentam) o debate naquilo que é essencial para a vida das pessoas e do país.

O país não pode estar dependente de "aparelhos" e de "jotinhas". A sociedade cívil tem a obrigação de participar e de obrigar esta gente que nos governa a ser transparente, séria e responsável. O passado 12 de Março, foi um bonito dia, onde o povo, de uma forma totalmente "despartidarizada", saíu rua e demonstrou o seu descontentamento. Não esqueçamos esse dia e o seu exemplo.