quarta-feira, 30 de março de 2011

Futre E O País Da Má Memória

Depois de uns dia fora de Portugal e ao saber que o governo já tinha pedido a sua demissão, pensava para mim lá nas nuvens, que ao pisar território nacional, não iria ouvir  falar de outra coisa, senão de "crise", "eleições antecipadas", "dissolução de parlamento", "FMI", etc. Estava enganado... O tema do momento era Paulo Futre e a sua já mitíca conferência de imprensa. Ao ligar o Facebook, não foi difícil encontrar amigos na rede (e não só), com os diversos vídeos que continham as declarações do homem do Montijo.

Ok. A coisa está, de facto, engraçada tanto na forma como, principalmente, no conteúdo. Aquele tom com que Futre falava e as suas mirabolantes ideias (nomeadamente, a do chinês e respectivos charters, museus, etc.) têm muito de cómico e também de ridículo. Também eu ri muito e também eu comentei a situação com o sarcasmo que a mesma merece (aliás, todo este acto eleitoral do Sporting é, por si só, um enorme contributo para o humor nacional).

Contudo, com o passar dos dias e com a continuação da enorme repercussão que o tema continuava a ter, tanto nas conversas de rua, como nas redes sociais, dei por mim a pensar em algo que considero curioso e, ao mesmo tempo, paradigmático no nosso país.

Futre foi o maior nome do futebol em Portugal, num período não tão curto quanto isso, que compreende o final de carreira de Eusébio, até ao aparecimento da "geração de ouro". Futre foi, no final dos anos 80 e princípio dos anos 90, um dos melhores jogadores do futebol europeu e mundial e, de longe, o mais prestigiado futebolista português da sua geração. Futre é "só" o mais importante futebolista da história do Atlético de Madrid, estando ligado aos melhores anos do clube colchonero. Futre foi e continua a ser um Senhor em Madrid e em Espanha, respeitado por todos, inclusivê pelos adeptos do clube rival, Real Madrid, tendo a sua carreira sido alvo de homenagens, prémios e reconhecimento por parte daqueles que foram brindados pelo seu génio futebolistico.

Posto isto e já antes desta conferência de imprensa, eu comentava muitas vezes, que não entendia  como alguém tão importante no nosso futebol e que durante os seus melhores anos, tanto prestigiou o nome do país, tenha sido votado a tão enorme esquecimento por parte dos portugueses, nomeadamente, a Federação Portuguesa de Futebol e até da cidade que o viu nascer, o Montijo (o próprio Futre, numa recente entrevista, dizia que a cidade do Montijo, nunca sequer lhe tinha feito uma singela homenagem). É, para mim, impressionante, que o país, as federações, os municípios e as pessoas, esqueçam as figuras que os prestigiam e que os levam a atravessar fronteiras. Tenho para mim, que quem não honra a sua memória, não merece a história que tem e o esforço daqueles que a fizeram.

Basicamente, o que quero transmitir, é que a minha memória principal de Futre, não vai ser o vídeo com as suas recentes declarações. Lamento se vou contra a corrente generalizada, mas a minha memória principal de Futre, não vai ser um momento menos feliz que teve e a consequente ridicularização de que foi alvo. As minhas memórias de Futre são outras. A minha memória de Futre, é vê-lo a "partir" três ou quatro defesas e depois ir à linha de fundo, oferecer o golo a alguèm. A minha memória de Futre, é vê-lo a marcar ao Sporting, em pleno Estádio da Luz, um grande golo, depois de uma excelente combinação com João Pinto. A minha memória de Futre, é vê-lo no Estádio Nacional, a fazer uma enorme exibição com a camisola do meu clube, marcando dois dos cinco golos, com que ganhámos uma Taça de Portugal. A minha memória de Futre, é vê-lo, novamente, em pleno Estádio da Luz, naquele seu jeito muito peculiar e empolgante, a correr com a bola colada ao pé como se não houvesse amanhã, sempre a dar aos braços, a flectir da esquerda para o meio e a desferir um portentoso pontapé à baliza estónia, levantando 100 mil adeptos, eu incluído... Chamem-me saudosista, o que quiserem, mas é assim que prefiro recordar Futre. Haja memória amigos. Da boa. E, já agora, justiça.

http://www.youtube.com/watch?v=T3PwrqqKIpw&NR=1&feature=fvwp

http://www.youtube.com/watch?v=Mjvfr28qyDE

http://www.youtube.com/watch?v=1o9WOmbxtLY&playnext=1&list=PL337F93EDB5711766

http://www.youtube.com/watch?v=usZ8sKc1I2k

http://www.youtube.com/watch?v=LzWEVp-D48c

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ainda Não Estou À Rasca Mas Vou

Eu vou ao denominado Protesto da Geração À Rasca. Não vou devido aos Homens da Luta, nem aos Deolinda, nem ao apelo (que me agradou, apesar de desconfiar das intenções...) do Presidente da República. Vou porque estou farto de políticos da treta, da esquerda à direita, que se regem por princípios demagógicos, de puro populismo e mentira, meramente com a intenção de atingirem o poder e de por lá ficarem, o máximo de tempo possível. E não me venham dizer que eu é que estou a ser demagogo, pois eu tenho a certeza que não estou.

As provas cabais de que esta gente não presta e que se preocupa unicamente com o poder, são muitas. São, por exemplo, as últimas eleições legislativas (há um ano e meio atrás), quando o partido do governo e o seu chefe, diziam à boca cheia, que o que fazia falta eram os TGV's , os Magalhães e afins. Ou então, actualmente, onde os partidos da oposição por razões de puro tacticismo e cinismo político, não cumprem, verdadeiramente, o seu papel. O Bloco de Esquerda, apresenta uma moção de censura ridícula, que todos sabiam que não iria ser aprovada, somente com o objectivo de se demarcar da hipócrita colagem que teve ao PS, nas últimas eleições presidenciais e de ganhar terreno, na contestação ao governo, aos colegas do lado no parlamento e arqui-rivais do PCP (não se gramam mesmo...). No centro-direita, o cenário não é melhor. O PSD, cinicamente, não quer assumir já o poder, porque sabe que o pode perder rapidamente e o CDS e o seu líder Paulo Portas, não passam de verdadeiros populistas (Portas, Louçã e Sócrates, são mestres neste capítulo, em particular), armados em conservadores. As perguntas são estas: Onde está o sentido de estado desta gente? É o país que lhes interessa? Ou não serão, somente, os respectivos "quintais" de cada um? É com esta gente que isto melhora? As respostas são, respectivamente, "em lado nenhum", "claro que não", "claro que sim" e "claro que não".

Confesso, que não aderi logo a este protesto. Desconfiei. Normalmente, estas acções têm algo por trás e quando digo isto, refiro-me a uma máquina partidária qualquer. Aparentemente (e espero não estar enganado...), foi algo espontâneo, que nasceu devido a um sentimeno generalizado de uma geração que quer mas não consegue. A uma geração que, basicamente, não passa do mesmo, quer estude muito, quer trabalhe muito, que se esforçe muito, etc.

Devo dizer que não me considero dos piores. Tenho trabalho, um ordenado, cama, comida, roupa lavada e ainda consigo ter alguma diversão extra. Vivo na casa dos meus pais, trabalho a full-time desde os 18 anos e, à minha custa, consegui licenciar-me. A questão é que tenho 27 anos e como toda a gente, gostaria de sair de casa dos meus pais e ter o meu espaço. Mas como? Compre ou arrende uma casa, ao fazê-lo sozinho, grande parte do meu ordenado, ficará no pagamento do empréstimo ou na renda. A juntar isto, as despesas da própria da casa, alimentação, combustível, etc e ficaria com o quê? Mudava de casa, mas na prática, continuaria dependente da casa dos meus pais. Mudar de emprego? Para onde? Vou a entrevistas e oferecem-me o mesmo ou muito menos... Recordo-me, em gerações não muito anteriores à minha, que mais novos e com trabalhos com um rendimento perfeitamente normal, conseguiam sair de casa muito mais facilmente e construir uma vida própria. Hoje não é assim... Mas nós também temos direito a uma vida própria. Repito, que não estou a fazer-me de coitadinho. Existem situações bem mais precárias que a minha, que respeito muito e é também e, sobretudo, por elas, que amanhã vou participar no protesto, mais não seja, para marcar uma posição de descontentamento com a actual situação do país.

Algo tem que mudar. Estou farto de "crises", de "mercados", de "agências de rating" e afins. Expressões que ouvimos todos os dias e que para o comum dos mortais, significam zero! Quero um país governado, definitivamente, com pessoas com sentido de Estado, que não vendam ilusões e falem a verdade. Quero um país, onde os meus compatriotas, tenham espírito crítico e saibam distinguir gente séria, de gente mentirosa e que percebem também que o Estado, somos todos nós. Nada mais! E mais uma vez digo, que não aceito que me digam que isto é demagogia. Não é! Está provado que temos sido governados por gente irresponsável e mentirosa, exclusivamente preocupados com os seus aparelhos partidários.

Por último, queria só expressar, uma vez mais, o desejo, que não haja qualquer tipo de aproveitamento por parte dos partidos políticos deste protesto. Tal como alguém escreveu no mural do evento no Facebook, este protesto é do Povo e os partidos devem ficar em casa! Pessoalmente, não me importarei de ver pessoas dos vários partidos, presentes na manifestação de amanhã. É legítimo e normal que assim seja, visto que todos os presentes têm as suas convicções e ideologias. Agora, se me aperceber de qualquer tipo de colagem por parte de algum partido (seja ele qual for) neste protesto e se essa mesma colagem, for aceite pelos organizadores do protesto, abandonarei imediatamente o mesmo. Este protesto só será credível e só terá expressão, se for feito pelo Povo e, somente, pelo Povo. Assim seja...

PS: Espero também que grupos radicais de extrema-direita ou extrema-esquerda, não apareçam para estragar a tarde de amanhã. Espero que o pacifismo impere e que a força esteja na presença de cada um de nós.
PS2: Aqueles que querem empregos, mas que não gostam de trabalhar, aqueles que têm emprego e que nada fazem para mantê-lo, que faltam constantemente, não se aplicam nas suas tarefas, que chegam constantemente atrasados, etc., não fazem, rigorosamente, falta nenhuma neste protesto. Eles não querem trabalhar e não merecem um salário justo. Gostam de viver á custa do trabalho dos outros e o ideal nestas mentes, seria estar em casa a ganhar dinheiro, sem fazer nenhum. E todos conhecemos gente assim e não me digam que é falso... Desses eu não tenho pena nenhuma. O protesto de amanhã é para aqueles que querem, lutam e acreditam num país melhor e mais justo e não num país de preguiçosos e de "chico-espertos".