terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Por favor, alguém me arranja uma manif?

É que parece que vai haver uma já no Sábado, mas a coisa não me parece muito bem. Começando logo pelo nome que lhe deram, "Que se Lixe a Troika". É que eu, apesar de não concordar com muitas medidas que foram tomadas desde que estes senhores por cá aterraram, não quero que a troika se lixe. Nada disso. Aliás, da mesma forma que discordo de muitas medidas, também acho que a troika tem sido "abençoada" em outras tantas. Além disso, gosto da ideia do meu país equilibrar as contas públicas, pagar o que deve (não confundir com financiar os "abutres" que andam a ganhar dinheiro com a crise das dívidas soberanas) e não viver acima das suas reais possibilidades. Tenho para mim, que só deste modo, o Estado (que somos nós todos e é de nós todos), poderá auxiliar quem mais precisa e desenvolver de forma sustentada o país.

Depois de verificar que a génese da coisa não me agradava, verifiquei outra questão que também me deixa de pé muito atrás. Mesmo que digam que é uma manifestação apartidária, que não tem nenhum partido ou sindicato na organização da mesma, o mote da mesma (o tal "Que se Lixe a Troika"), revela que não é bem assim. Mesmo que esta manifestação não tenha nenhuma organização partidária por detrás da mesma, tem claramente um sector do nosso parlamento que está suportá-la. E isso não tem nada de negativo, obviamente. Não me digam é que é um movimento espontâneo de cidadãos, porque não o é. Tem uma máquina de um determinado sector do nosso parlamento a funcionar e o próprio mote da manifestação tem um objectivo político claramente ligado a esse mesmo sector. O sector que acha que tudo deve estar como está, que acha que o Estado actual é um Estado sustentável e que continua a pensar e a olhar para o país da mesma forma que o fazia em 1974. O sector que não percebeu (ou finge não perceber) que as necessidades do país mudaram muito nos últimos 39 anos e que o famoso Estado Social, continuando a funcionar do mesmo modo, deixará em breve de existir e que este é o debate mais importante que nós enquanto país teremos que fazer e com a maior das urgências. Assim sendo e como este sector me parece completamente fora da realidade, este é mais um motivo para eu não ter muita vontade de lá estar.

Posto isto, se conseguirem arranjar por aí uma manifestação verdadeiramente apartidária, que tenha por objectivo alertar os nossos governantes e a troika que um país só existe, se existir economia, é bem possível que eu participe na mesma. Se arranjarem uma manifestação que alerte os nossos governantes e os senhores da troika que para existir economia, não podemos viver numa "ditadura fiscal" e que a austeridade (necessária, é um facto) tem limites, eu estou lá. Iria ainda com mais vontade se, além do que escrevi atrás, se essa mesma manifestação contestasse a classe política que temos e a forma como os nossos partidos funcionam (uns porque vivem num sectarismo absoluto, outros porque vivem de e para clientelas). Iria com um gosto enorme, se houvesse uma manifestação que alertasse para o quão vergonhoso é, termos tido nos últimos anos como nossos representantes políticos e como governantes, gente como Sócrates, Mário Lino, Pedro Silva Pereira, José Lello, Relvas, Dias Loureiro, Duarte Lima, entre outros. Se arranjarem uma manifestação com estas características, eu estou lá e prometo que canto "Grândola Vila Morena". Fará todo o sentido. Até lá, só espero que não banalizem a canção e a sua mensagem.